26 abril 2009

Lan House como ponto-de-encontro, ponto de acesso e ponto estratégico no Brasil



Procurando inspiração pra ajudar os novos internautas a utilizarem melhor a internet, me deparei com a necessidade de tratar justamente dos recursos básicos para ter o acesso à rede. Encontrei alguns dadoso relevantes que procuro citar abaixo neste post para o Movimento Blog Voluntário 2009. Vamos ao post!

Em pesquisa recente divulgado pelo CGI (Comitê Gestor da Internet) o uso de centros públicos de acesso pago saltou de 30% em 2006 para 49% em 2007, passando à frente do domiciliar, que se manteve estável em 40%. Na região Nordeste esse índice chega a incríveis 67% e na região Norte 68%. Em famílias com renda até R$ 380 o índice chega a 78%. Estes números reforçam a importância das lan houses para a inclusão digital no Brasil.

Estima-se que existam 44 mil lan houses no Brasil. No Rio de Janeiro, existem cerca de 150 delas no Complexo do Alemão, cerca de 100 na Rocinha e cerca de 90 na Cidade de Deus. No Heliópolis, em São Paulo, são 30.

Em experiência na oficina PraLer Blog em sua fase de experimento na unidade do CIC Ferraz de Vasconcelos, concluimos que o principal meio de acesso à web pelos alunos eram feitos de fato por lan houses e telecentros, como o próprio CIC mantido pelo governo estadual de São Paulo, todavia o uso das lan houses e telecentros fica condicionado à proximidade da residência dos internautas e o valor de acesso/hora que muitas vezes adquire caráter determinante no acesso.

Como fazer para que mais pessoas possam ter acesso aos benefícios no meio digital para melhorar sua qualidade de vida?

Se formos destrinchar o assunto, iremos perceber adiante que somente políticas públicas e parcerias privadas podem aumentar os índices de popularidade da internet entre os brasileiros.

Procurei e não encontrei programa de governo que evoque abertura de lan houses em comunidades, pelo contrário como mostrou reportagem da Regina Casé em seu Central da Periferia, no dominical Fantástico da Rede Globo em novembro do ano passado, o que existe, por exemplo, em algumas cidades são leis que impedem que lan houses sejam abertas próximo a escolas. Uma legislação municipal, pode por exemplo, interpretar uma lan house como uma casa de jogos, dificultando por isso o alvará de funcionamento da mesma, contudo, muitas proprietários burlam a legislação conquistando alvará de lojas e cursos de informática entre outros similares, ou agem na informalidade. Faz se, portanto, necessário o empenho dos nossos eleitos em criar legislação específica favorável a abertura de novos centros para fazer valer a inclusão digital onde houver cidadão no país.

Com o benefício de crédito a partir do programa do governo federal Computador para Todos, Dando, jovem morador da Favela de Antares, zona oeste do Rio, pode em 2005 inaugurar a primeira lan house de sua região. Na rotina da comunidade ele sentiu necessidade de aproximar os moradores de serviços que contavam apenas com uma ida à "cidade", como se referem ao citarem uma viagem de ônibus até o centro do Rio, para uma simples declaração de imposto de renda, por exemplo, viu ali a oportunidade de negócio que o projetou a uma sociedade bem sucedidada com seu amigo, como mostra reportagem de Antonio Carvalho Cabral, da FGV do Rio para o site Carta Maior.

Outros casos podem ter ocorrido no Brasil a partir deste incentivo, no site do programa Computador Para Todos, dados mencionam que o projeto lançado em 2005 com o objetivo de vendas de 1 milhão de computadores a preços populares (menos de R$ 1000 em até 24 parcelas) já atinge a marca de mais de 300 mil equipamentos vendidos. Mas o que é relevante na apresentação dos números é constatar que outras marcas não incluídas no programa oficial baixaram seus preços para competir e conquistar consumidores das faixas C e D da população, a mesma almejada pelo programa. O governo federal também cita a implementação da "Lei do Bem" que viabiliza redução de impostos para computadores com preços até R$ 4 mil (desktops e notebooks)

Mas se temos mais computadores, como o acesso domiciliar é menor que o acesso em lans house?

Em 2008 tivemos um aumento de 17% na venda de computadores no Brasil. Parte destes devem ter inaugurado algumas lan houses pelo país afora. O acesso à internet banda larga no uso doméstico ainda é baixo, estima-se que 42% ainda acessam a rede principalmente por modem tradicional via acesso discado, e o motivo talvez seja os preços praticados pelas empresas provedoras de banda larga. Em São Paulo podemos assistir em 2008 o embate entre a Telefônica e o Tribunal Regional de Justiça para que a empresa fosse impedida de obrigar seus clientes a terem vínculo a um provedor de acesso, prática desnecessária que a matinha desde os primórdios de sua atuação no Estado. Finalmente o usuário saiu ganhando e não terá de desembolsar nada além do valor pago pela tecnologia e velocidade de acesso escolhido. O exemplo serve para ilustrar como é comum nos depararmos com práticas e valores abusivos por parte das empresas que atuam no Brasil, fazendo com que muitas pessoas optem por acessar a web de modo controlado a partir de lan houses.

A proliferação de lan houses pelas periferias é uma resposta à ineficácia do alcance do poder público.


"A inclusão digital passa a ser feita pelas pessoas, pelas pequenas empresas. Elas vão resolvendo o que o governo não consegue resolver", diz Gilson Schwartz, líder do grupo de pesquisa Cidade do Conhecimento CTR/ECA/USP (Departamento de Cinema, Rádio e TV da Escola de Comunicação e Artes). Os telecentros mantidos por governos não contam com a mesma efervescência das lan houses, nem com a proximidade direta aos seus usuários, lembro-me que nas escolas que frequentei, todas elas públicas, sempre havia uma sala de computadores que se mantinha na promessa de um dia ser um centro de informática, instrumento para alunos e professores, mas que de fato nunca se concretizou até minha formação em 2001, e pelo que vejo na rotina dos meus sobrinhos, atuais frequentadores deste mesmo sistema de ensino, os tais laboratórios de informática ainda não se fazem presente. Sobretudo, em uma lan house os participantes socializam jogos on line, conversas em chat e outras funções que invariavelmente são bloqueadas em instituições públicas. Em post recente em seu blog, Marcelo Tas alertou a prefeitura de São Paulo sobre a censura que o seu blog, um dos mais acessados do país, sofria a partir de um sistema de bloqueio utlizado nos telecentros do município. A ineficácia do Estado na manutenção de práticas para modernização do acesso é evidente e assustadora, como podemos ver. Foi buscando mais informações sobre a ação dos governos que me deparei com este projeto mantido pelo Governo do Estado de São Paulo, o Acessa Escola.

O projeto consiste em promover a inclusão digital e social dos alunos, professores e funcionários das escolas da rede pública estadual que ministram o ensino médio. Para isso, o programa pretende fazer uso das salas de informática das escolas e com corpo de monitores de alunos-estagiários para manutenção das atividades desenvolvidas no laboratório. O projeto segue em sua fase "beta", alcançando apenas escolas da capital. A iniciativa parece ser eficaz: o estagiário selecionado em seleção Pública realizada pela Fundap e capacitados pela Coordenação do Programa Acessa Escola – FDE, recebe bolsa de R$ 340,00 para uma carga horária de 4 horas diárias, podendo ser cumpridas em um dos 3 períodos. O contrato dura 12 meses e pode ser renovado. Os selecionados são encaminhados para a própria escola onde estuda, ou uma outra próxima. Jovens universitários também podem se inscrever no programa e atuar como monitores. Ação louvável que merece nossa torcida para que mais escolas e alunos possam fazer uso da iniciativa.

Essa medida relaciona o uso de novas mídias como ferramenta de modernização do sistema de ensino, pois é mais que sabido que a atual face da educação brasileira é fator desmotivante dos alunos que cada vez mais submetidos a novos estímulos tecnológicos em seu cotidiano, enxergam na escola a faceta mais arcaica de um modelo obsoleto e ineficiente.

Lan houses vistas como potencial de encontro e consumo jovem

Pesquisa realizada pela A Ponte Estratégica consultoria de marketing especializada na baixa renda, em periferias de diferentes capitais do país, avisa aos anunciantes que as lan houses são pontos estratégicos para o alcance dos consumidores das classes C, D e E, conforme divulgou o jornal Propmark em meados de abril, resta-nos esperar que projetos sejam desenvolvidos por marcas interessadas neste nicho e possam fomentar o crescimento e uso do serviço por cada vez mais jovens. Por fim, desejamos que as lan houses possam ser vistas como importantes pólos culturais de uma comunidade, como parceira na formação acadêmica e do caráter civil, ainda que atuante como mero entretenimento a estes jovens que poderiam achar maior interesse numa roda de bar ou qualquer coisa que o valha.

Vídeo despedida da série Lan House do quadro Central da Periferia, com Regina Casé no Fantástico.

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